O
Caminho da Harmonia
Em
nosso último artigo falamos um pouco sobre limite, liberdade e, mais
importante, do caminho do meio, o mister de equilíbrio entre os dois polos,
harmonia.
O
termo Aikido é composto por três caracteres kanji:
Ai:
Harmonia (合);
Ki:
Energia (気);
Dô:
Caminho (道).
“Ai” também pode ser traduzido como unido,
unificado, combinado e ajuste. O termo “Aikido” é geralmente traduzido como "o
caminho da unificação (com) da energia da vida", ou "o caminho do
espírito harmonioso". Nesse sentido, um aspecto importante desta arte
marcial é fazer-se um só com o oponente, não com objetivo de vencê-lo ou
destruí-lo, mas de dominá-lo redirecionando sua força agressiva, resolvendo
assim o conflito. Em outras palavras, o oponente cria um conflito, o praticante
do Aikido integra-se a ele de modo que ambos formam um só conjunto, então
controla e direciona as energias desse conjunto para uma solução do conflito, à
sua pacificação, que é, como vemos, o objetivo desta arte. Harmonizar.
Na
Gestalt-Terapia, uma das abordagens da psicologia clínica, há um conceito
chamado Teoria Paradoxal da Mudança; uma concepção de que se está mais próximo
da possibilidade real da mudança, quanto mais próximo se está da situação que
se pretende mudar. Parece paradoxal pois implica em se aceitar e se aproximar
profundamente daquilo que se quer mudar em si mesmo, um deixar-se ser aquilo
que em um primeiro momento não se quer ser, a fim de que se possa não ser mais.
Ser para não ser.
É
basicamente o mesmo que dizer que, se você quer mudar algo na sua vida, no seu
comportamento, nas suas perspectivas; em primeiro lugar, você deve se aproximar
da realidade que quer mudar, vivenciá-la com toda a profundidade, e é dessa
experiência que surgem as possibilidades mais concretas e prováveis de mudança.
Muito diferente de querer simplesmente impor algo ou um valor a si mesmo, ou de
negar e escamotear aquilo que de fato existe em você, como costumamos fazer.
Se
sou preguiçoso, por exemplo, e isso atrapalha muito minha vida, decido que
quero mudar essa tendência. Normalmente tendo a tecer uma perspectiva na qual a
preguiça passa a ser minha inimiga, minha oponente. Tendo a querer me afastar
da sua imagem e eliminar tudo que pode ter a ver com ela. Luto contra ela. Se
perco, a humilhação da derrota me leva à negação do ocorrido, à tristeza ainda,
à abusos, ou à culpar os outros e o mundo, até mesmo à rebeldia. Se ganho, não
ganho totalmente, preciso manter pressão constante para que não se levante
novamente contra mim e me derrube, e gasto constantemente minha energia para
manter-me “vencedor”. Não parece muito eficiente.
Se
quero realmente transpor a preguiça, primeiro, preciso aceita-la profundamente,
sem negá-la ou escamoteá-la, entrar em contato com o prazer associado a ela,
deixar-me ser preguiçoso talvez, mas ver e sentir como é isso e também as
consequências a que me levam, sendo assim um com aquilo que quero mudar e me
causa um conflito, mas também com as consequências, as perspectivas, os valores
que me norteiam, o máximo possível do que me habita. Formo um conjunto com
conflitos internos, com desentendimentos de eu comigo mesmo, que eu quero
solucionar por bem, redirecionando as energias de modo a que o conjunto
encontre uma forma sustentável, harmoniosa. Se a preguiça é incompatível com a
harmonia, aos poucos a energia canalizada dessa forma pode ser redirecionada,
extinguindo o conflito e pacificando. Também na mente nada se perde, tudo se
transforma.
A
semelhança com a proposta do Aikido está longe de ser mera coincidência.
Enquanto
permanecer algo em mim escorraçado da minha consciência, negado, amordaçado ao
feitio de um inimigo, de um vilão, de algo péssimo, ruim, que deve ser
extirpado, o conflito inerente persistirá, e a mudança tenderá a ser temporária
e relativamente superficial, demandando investimento constante no sentido da
repressão. Alguma semelhança com dificuldades experimentadas em modificar o
comportamento de nossos filhos? Ou com a forma como tratamos os “vilões” de
nossa sociedade? Também não temos coincidências aqui.
Vamos
falando aos poucos sobre como isso acontece e o que podemos fazer.
Um
abraço e boa semana a todos!
Leandro Barbosa da Silva
Psicólogo – CRP 12/13919
47
9717 4864
47 3027 1728
Espaço
Psicológico D´Etude
R. Alexandre Dohler,
129; Sl. 704
Joinville - SC
Parceiro do Instituto Tachibana de Aikido
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