Prevalecer
ou Conhecer?
Olá!
Já
é mais que hora de retomarmos o nosso caminho pela Psicologia combinada com o
Aikido!
Para
quem não leu ou quer relembrar os textos anteriores, fornecemos os links. É
importante os ler pois, apesar de cada texto ter um início e um fim próprios,
não deixam de ter uma certa continuidade.
Pois
bem, prossigamos a falar sobre o conceito Ai (合; harmonia) da cultura japonesa, primeiro elemento do nome Aikido (合気道).
No
texto anterior abordamos em linhas muito gerais a forma como esse conceito é
norteador não apenas na filosofia do Aikido no que diz respeito ao
enfrentamento de um adversário, ou seja, na resolução ou pacificação de um
conflito, mas também nas nossas vidas, tanto nos pequenos quanto nos grandes
acontecimentos que nos sucedem diariamente. Há ainda muito o que ser dito sobre
o assunto e é de enorme relevância, então aprofundemos com atenção.
Segundo
o dicionário Houaiss da língua portuguesa (versão 3.0), adversário pode
significar “que ou o que combate (contra outrem); antagonista, contendor”.
Aquele que combate é aquele que se opõe ativamente, isso é, que emprega suas
forças, sua energia, em sentido contrário a outra força. Um agressor que quer
nos bater mobiliza, muito frequentemente, sua energia de modo a, através da
violência, eliminar ou enfraquecer uma ideia que o atormenta... Sim, uma ideia.
Por exemplo, a ideia de que ele mesmo é oprimido, de que ele é fraco ou
inferior, ou de que somos uma ameaça pontual e urgente à sua vida. Há outras
possibilidades também, mas esses exemplos são muito frequentes. Aprofundaremos
sobre isso em momento oportuno.
Nosso
mundo é feito de representações, é abstrato mesmo que lidemos com ele de forma
concreta. Uma coisa é atacarmos uma ameaça real, como um animal frente a seu
predador, outra coisa é atacarmos uma ideia distorcida de uma ameaça que
atribuímos a uma outra pessoa.
Enfim,
a mobilização da energia para eliminar ou destruir através de um ato físico é
considerada uma ação regressiva do sujeito, isso é, ele regride psicologicamente
a um estado anterior (que infelizmente pode não estar muito distante do atual e
ordinário) no qual as coisas são resolvidas “na porrada”, ou pelo “tacape” como
era muito antigamente. Frequentemente, muda-se a arma, mas a lógica é
radicalmente a mesma e agimos como crianças que não dispõem de outros recursos
para a solução de seus problemas.
Sendo
você o representante da “força” que está sendo combatida dessa forma, o
“adversário” mobiliza sua energia para te atingir mas, se aquele que te combate
se torna também representante de uma ideia à qual você combate, mesmo que você
nem perceba nada disso, você não apenas terá interesse em se defender, mas
também em lesioná-lo ou eliminá-lo. Há então a guerra, onde ambos tentam
prevalecer, mas nenhum deseja conhecer!
E
é justamente sobre conhecer que se trata a harmonia no Aikido. As técnicas
visam a pacificação do conflito pelo redirecionamento da energia de violência e
agressão do “adversário” contra ele mesmo, para que ele mesmo possa entrar em
contato com o que se passa consigo; e também sua imobilização, ou seja, o
impedimento da prevalência de seu intento violento, obrigando-o a buscar outras
vias, outros meios, para resolver seu conflito. Aquele que se defende dessa
maneira proporciona meio de autoconhecimento ao que ataca, conhece melhor
aquele que ataca e se dispõe a ser conhecido na medida em que obriga o atacante
a procurar outras maneiras de resolver seu conflito que é, na verdade, quase
sempre consigo mesmo.
Não
se trata, portanto, de prevalecer, mas antes de educar. A educação e a cultura
nos munem de recursos novos, menos ou completamente não violentos, para
resolver nossos problemas. A evolução de nossa espécie e as contingências do
meio nos levaram à inteligência necessária para isso, e a cultura que
construímos nos fornece as ferramentas através das quais condicionamos e
utilizamos nossa inteligência. Por excelência, a mãe dos nossos recursos é o
que chamamos de linguagem. Se o adversário é impedido de atacar diretamente,
talvez algo do que lhe reste seja o diálogo e, no diálogo, todos crescem. Não
se trata portanto de machucar primeiro, ou ser reconhecido como quem tem a
razão, mas pacificar. Educação que nos proporciona ações em que de fato
utilizamos nossos potenciais, ao invés de nos lançarmos, já grandes, à disputas
do feitio de crianças muito pequenas. Por que não proporcionar aos nossos filhos meios também
para tanto?
Peço
que deixem dúvidas e comentários que o texto possa suscitar, vamos discutindo e
assim vocês também podem participar dos rumos que tomamos.
Continuaremos
o tema na próxima semana.
Um
abraço a todos!
Leandro Barbosa da Silva
Psicólogo – CRP 12/13919
47 9717 4864
47 3027 1728
Espaço
Psicológico D´Etude
R. Alexandre Dohler,
129; Sl. 704
Joinville - SC
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